segunda-feira, 29 de novembro de 2010

ROMÂNTICOS (Wander Lee)

Uma belíssima homenagem aos novos homens do século XXI. Os chamados homens Beta, uma revolução no universo masculino. Homens de verdade!

Românticos são poucos
Românticos são loucos
Desvairados
Que querem ser o outro
Que pensam que o outro
É o paraíso...
Românticos são lindos
Românticos são limpos
E pirados
Que choram com baladas
Que amam sem vergonha
E sem juízo...
São tipos populares
Que vivem pelos bares
E mesmo certos
Vão pedir perdão
Que passam a noite em claro
Conhecem o gosto raro
De amar sem medo
De outra desilusão...
Romântico
É uma espécie em extinção!
Romântico
É uma espécie em extinção!
Românticos são poucos
Românticos são loucos
Desvairados
Que querem ser o outro
Que pensam que o outro
É o paraíso...
Românticos são lindos
Românticos são limpos
E pirados
Que choram com baladas
Que amam sem vergonha
E sem juízo...
São tipos populares
Que vivem pelos bares
E mesmo certos
Vão pedir perdão
Que passam a noite em claro
Conhecem o gosto raro
De amar sem medo
De outra desilusão...
Romântico
É uma espécie em extinção!
Romântico
É uma espécie em extinção!
Românticos são poucos
Românticos são loucos
Como eu!
Românticos são loucos
Românticos são poucos
Como eu! Como eu!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Que venha a turma dos bancos do fundo (Pompeu de Toledo)

Fui professora de um aluno que sempre foi primeiro na classe. Depois de muito tempo, ao discutir assuntos de relações de poder com ele, lembrei desse texto que muito me chama atenção. Tirem suas conclusões...

Os feitos de antigos primeiros da classe recomendam que se entregue o poder aos maus alunos
 
Albert Einstein foi aluno sofrível. Incomodava-o a rígida disciplina da escola alemã de fins do século XIX. Aos 15 anos, com más notas em história, geografia e línguas, abandonou a escola de Munique em que estudava. Foi retomar os estudos tempos depois, na Suíça. Charles Darwin apresentava tão medíocre rendimento escolar que o pai lhe lançou um anátema, quando tinha 16 anos: "Você será uma desgraça para sua família e para si mesmo". Na faculdade de medicina, aonde chegou aos tropeções, era tomado por tédio mortal, nas aulas teóricas, e tinha enjôo ao assistir à dissecação de cadáveres. E o poeta Carlos Drummond de Andrade? Este foi expulso da escola dos jesuítas em Nova Friburgo (RJ) por "insubordinação mental". Por insistência da família acabou fazendo uma faculdade. Formou-se em farmácia.
Ser mau aluno não prenuncia necessariamente, como se vê, um futuro medíocre. Inversamente, ser bom aluno não quer dizer que a pessoa está fadada a um futuro brilhante, nem que seja especialmente dotada, nem mesmo que seja a mais inteligente da turma. Pode querer dizer apenas que é a mais conformada. Ou mais reprimida. Ou mais enquadrada. No entanto, existe uma corporação que ainda dá alto valor ao bom aluno. Ou melhor: bom aluno é pouco. Ao melhor. O primeiro. Existe uma corporação em que o primeiro da classe, ou primeiro da turma, é cultuado como santo no altar. Essa corporação são as Forças Armadas.
 
É o que se aprende, ou que se recorda, para quem já sabia, ao ler a edição de VEJA da semana passada. A revista tem bom número de páginas dedicadas a militares. Começa com uma entrevista, nas páginas amarelas, do brigadeiro Walter Bräuer, demitido recentemente do comando da Força Aérea, continua com as inéditas conversas do presidente João Figueiredo, recentemente falecido, com o fotógrafo Orlando Brito e termina com uma nota sobre o capitão-deputado Jair Bolsonaro, de volta à atualidade por pregar o fuzilamento do presidente da República. Há duas referências a primeiro da turma, nesses textos. A primeira é de Bräuer: "Sempre fui primeiro da turma, desde o primário até o generalato". A segunda é de Figueiredo, ao falar do general Costa e Silva: "Sempre foi o primeiro colocado onde quer que tenha estudado".
De que serviu ao brigadeiro Bräuer o excelente rendimento escolar? É a pergunta que surge, ao se constatar que, na plenitude dos 62 anos, ele se confessa incapaz, no trecho de maior repercussão da entrevista, de julgar Adolf Hitler. "Eu não defendo Hitler, mas também não posso atacá-lo", diz. Na mesma entrevista, concedida à jornalista Sandra Brasil, ele ataca a criação do Ministério da Defesa e a privatização da Infraero – mas não vê razões para atacar Hitler! O führer do III Reich tinha uma personalidade "um pouco distorcida", segundo o brigadeiro, mas era "um líder" e, "se conseguiu mobilizar uma nação como a Alemanha, devia ter o seu valor". E a Costa e Silva, de que valeram os lauréis escolares? Sua maior qualidade era o espírito decidido, segundo Figueiredo. Quando pairava sobre algum político a suspeita de infidelidade ao regime, dizia logo, com seu sotaque gaúcho: "Que se lhe casse, então!" Claro, ele tinha os tanques, os aviões, as belonaves e as polícias a facilitar-lhe as decisões, mas e daí? Era decidido. Cassava com destemor.
O próprio Figueiredo, embora não o diga na reportagem, foi primeiro da turma. Por isso, ao se formar, em 1937, mereceu a distinção de receber o espadim do próprio presidente, Getúlio Vargas – incidentalmente, o homem que lhe prendera o pai, revolucionário de 1932. O excelente aluno Figueiredo declara, numa das conversas com Brito, que boa solução para a favela da Rocinha seria atirar-lhe uma bomba atômica. Numa fita exibida pela Rede Globo, já aparecera dizendo que uma vez, na Igreja do Bonfim, foi tão abraçado pelas baianas que, por mais banho que tomasse, não se livrava do "cheirinho de crioulo". Quanto ao capitão Bolsonaro, outro personagem da última VEJA, não foi primeiro da turma, mas também não se saiu mal – foi o sétimo de uma turma de mais de quarenta na Academia Militar. O feito que o projetou foi um plano de explodir bombas em quartéis, para protestar contra a prisão de um sargento e os baixos soldos dos militares.
Entre os civis, faz tempo que o prestígio do primeiro da classe está abalado. Sabe-se que não se atravessa a escola e a vida, necessariamente, no mesmo compasso. É compreensível que nas Forças Armadas, onde são soberanos os valores da hierarquia e da disciplina, ainda perdure – mas precisavam nos mandar primeiros da classe, e bons alunos, como esses? Um tem palavras carinhosas para Hitler, outro quer fuzilar o presidente, outro, jogar bomba atômica na favela... Que venham os últimos da classe, é o que se conclui. Que venham aqueles que sentavam nos bancos do fundo e conversavam na aula. Aqueles repetentes já com pêlo no rosto, em oposição à maioria imberbe. Que venham comandar as Forças Armadas. Que venham governar o país.
 
 


 

domingo, 21 de novembro de 2010

Homenagem à Consciência - NegraNavio Negreiro (Castro Alves)

Era um sonho dantesco... o tombadilho 
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite... 
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar... 
Negras mulheres, suspendendo às tetas 
Magras crianças, cujas bocas pretas 
Rega o sangue das mães: 
Outras moças, mas nuas e espantadas, 
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs! 
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente 
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala, 
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais... 
Presa nos elos de uma só cadeia, 
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece, 
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri! 
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..." 
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
          Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
          E ri-se Satanás!... 
 

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Um pouco do que trata meu projeto de pesquisa do mestrado em Direito Ambiental

RESUMO


Conforme determina a Lei 9795/99, Educação Ambiental é o processo pelo qual a sociedade e o indivíduo constroem conhecimentos, atitudes, competências, valores sociais voltados para a preservação do meio ambiente e sua sustentabilidade. Pelo caráter holístico, contínuo e permanente, a lei proíbe que educação ambiental seja trabalhada em disciplina específica, de forma sistemática em conteúdos do currículo.  Assim, determina-se que essa questão deva ser trabalhada como tema transversal em cada disciplina do currículo nacional. Cada professor de disciplina específica deve incluir no seu planejamento os temas de educação ambiental a ser trabalhado com seus alunos, de forma transversal em consonância com o conteúdo programático já determinado pelo Ministério da Educação e Cultura. Portanto essa pesquisa visa observar de que forma os professores das escolas estaduais de Macapá vem abordando questões relativas ao meio ambiente e que dificuldades esses profissionais do Ensino Básico encontram para trabalhar na transversalidade a Educação Ambiental em seu conteúdo programático, conforme descreve a Lei 9795/99.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Senador eleito pelo Amapá visita o PCdoB

Nesta terça-feira, o senador eleito pelo estado do Amapá, sen. Randolfe fez uma visita ao PCdoB  na liderança do PCdoB na Câmara dos Deputados e foi recebido pelo presidente nacional do PCdoB Renato Rabelo, pelo senador Inácio Arruda (PCdoB/CE), pela  senadora eleita Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), pelo deputado federal Evandro Milhomem (PCdoB/AP) e pelo presidente do PCdoB/AP Luiz Pingarilho.

Reunião com senador Randolfe
O senador aproveitou o encontro para a troca de idéias e intercâmbio de opiniões sobre o resultado das eleições no Amapá.
Segundo Rabelo “foi uma conversa inicial, mas ficou clara a identidade política entre o PCdoB e o senador Randolfe, podemos realizar um trabalho conjunto na defesa do nosso povo no Senado”.


De Brasília
Gustavo Alves

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

ASSINE: CARTA ABERTA À ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO AMAPÁ

CARTA ABERTA À ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO AMAPÁ




A democracia moderna se caracteriza, no aspecto da estrutura de poder, pela chamada separação de poderes. Nesta perspectiva, os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário são autônomos e harmônicos. A autonomia fica assegurada, entre outros fatores, quando os poderes dispõem de recursos financeiros suficientes para manter suas competências constitucionais sem necessidade de pedir recursos a outro poder e sem que isso impeça que outro poder fique impossibilitado de exercer suas respectivas competências.



O Estado do Amapá, nestes últimos anos, no aspecto do financiamento dos poderes, vive uma situação singular: O orçamento da Assembleia Legislativa tem sido de um valor muito elevado, se comparado a órgãos do Poder Executivo que executam também importantes funções de governo. Infelizmente o Governo do Estado não é transparente e as informações sobre execução orçamentária não estão disponíveis para a sociedade. O quadro a seguir apresenta informações sobre o orçamento da Assembleia Legislativa e de outros órgãos do Estado, relativo ao exercício de 2009.


Quadro 1 – Orçamento do Estado do Amapá – Exercício de 2009

Órgão .................................Orçamento
Assembléia Legislativa....90.936.725,00
Tribunal de Contas
do Estado.........................45.625.866,00
Secretaria de Justiça e
Segurança Pública...........32.997.477,00
Secretaria de Indústria
e Comércio.........................3.811.014,00
Secretaria de Trabalho
e Empreendedorismo.........5.069.114,00
Secretaria de Ciência
e Tecnologia.......................1.761.471,00
Secretaria de
Meio Ambiente..................1.740.935,00
Secretaria de Turismo........8.653.107,00
Polícia Militar....................5.387.025,00
Polícia Civil.......................4.200.180,00
Corpo de Bombeiros.........4.167.969,00
Universidade do Estado
do Amapá...........................3.093.216,00
CAESA...............................6.729.450,00
CEA....................................5.408.498,00


As informações apresentadas, permitem identificar que o orçamento da Assembleia Legislativa é imensamente maior que o orçamento de diversas secretarias e órgãos de Estado que também executam importantes políticas públicas. Neste sentido, o valor do orçamento mensal da Assembleia, chamado duodécimo (orçamento anual dividido por 12) é R$ 7.578.060,41, ou seja, é maior que o orçamento anual de diversas secretarias e órgãos do governo.

É possível, ainda, estabelecer outra comparação. Dividindo o orçamento da Assembleia por 24 (que é o número de deputados estaduais) tem-se o valor de R$ 3.789.030,21 significando que em 2009 cada deputado custou ao povo amapaense quase quatro milhões de reais. Portanto, o custo anual de um deputado estadual é maior que o orçamento de importantes órgãos do Estado, como SEMA, SETEC e a Universidade do Amapá.



É importante estabelecer uma ressalva. No Poder Executivo, as despesas de pessoal não estão distribuídas pelas diversas secretarias e órgãos, mas agrupadas apenas na Secretaria de Administração. Todavia, mesmo que as despesas de pessoal estivessem rateadas nas Secretarias, ainda assim seus orçamentos seriam menores que o da Assembleia.



Pode-se, também, estabelecer comparação com o Poder Judiciário. Em 2009, o orçamento do Tribunal de Justiça foi de R$ 143.726.391,00. Todavia, é preciso destacar que o Tribunal de Justiça possui comarcas nos dezesseis municípios, tem aproximadamente 800 servidores concursados, 65% dos seus cargos comissionados são ocupados por servidores concursados, e está plenamente informatizado. Por seu lado, a Assembleia Legislativa está instalada apenas em Macapá e possui somente 136 servidores concursados.


Essa discrepância orçamentária decorre da forma de definição dos orçamentos dos poderes. Nos últimos anos, a Assembleia Legislativa tem estabelecido na Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO que os orçamentos da Assembleia, do Tribunal de Contas do Estado, do Tribunal de Justiça e do Ministério Público Estadual são definidos por um percentual da Receita Orçamentária efetivamente realizada. Assim, por exemplo, no orçamento/2009, os orçamentos da Assembleia, do Tribunal de Contas do Estado, do Tribunal de Justiça e do Ministério Público Estadual foram, respectivamente, 4,98%, 2,5%, 6,45%, e 3,5% da Receita Orçamentária efetivamente realizada. Sobre essa forma de definição dos orçamentos, há duas considerações a fazer:


De acordo com a Constituição Estadual, a LDO deve ser aprovada pela Assembleia até 30 de junho e o projeto de lei orçamentária deve ser enviado àquela Casa de Leis até 30 de setembro. Isso significa que antes mesmo de saber qual será o valor da receita do Estado, a Assembleia define que percentuais dessa receita devem ser destinados aos poderes. Dessa forma, a Assembleia define o seu orçamento não pelo prisma da despesa (quanto recurso necessita para desenvolver suas ações), mas pelo prisma da receita (do valor que o Estado arrecadar, um certo percentual pertence à Assembleia).



Outra implicação é que o orçamento da Assembleia não é fixo. Como ele é um percentual da receita corrente líquida, havendo excesso de arrecadação (o que ocorre todo ano), o orçamento da Assembleia cresce na mesma proporção, independentemente das necessidades reais de gastos do Poder.

O Instituto Raça Humana e demais entidades, cidadãos e cidadãs que subscrevem este documento, não pretendem que a Assembleia Legislativa não obtenha o orçamento necessário para o desempenho de suas funções constitucionais. Consideramos que a Assembleia exerce funções fundamentais para o processo democrático. A primeira delas é aprovar leis de interesse público, e, a segunda é fiscalizar as ações do Poder Executivo. Neste último caso, no entanto, os recentes fatos evidenciados pela Operação Mãos Limpas, realizada pela Polícia Federal, demonstram que a Assembleia não vem cumprindo com eficácia sua função constitucional de fiscalizar o Poder Executivo.


As informações apresentadas permitem inferir que a Assembleia Legislativa tem custo elevadíssimo para o povo amapaense, mas não oferece benefícios concretos à população. Toda a sociedade amapaense tem sofrido com as graves deficiências das ações públicas. Todavia, a Assembleia sempre se manteve silenciosa quanto ao sofrimento do povo e sua ação, quando existiu, não trouxe ganhos concretos à sociedade.

Em razão do exposto, os cidadãos abaixo assinados exigem da nova Assembleia Legislativa a execução das seguintes ações:

a) Seja alterada a forma de definição dos orçamentos dos poderes, de forma que os mesmos reflitam a real necessidade de recursos para desenvolver suas competências constitucionais;



b) O imediato cumprimento da chamada Lei da Transparência. Para tanto, a Assembleia deve manter um portal eletrônico, em tempo real, todas as informações sobre as receitas recebidas e as despesas executadas, contendo as seguintes informações:

b.1 Todas as despesas realizadas por cada deputado com as chamadas “verbas de gabinete”, contendo as pessoas físicas e jurídicas e respectivos valores recebidos;

b.2 Todas as fiscalizações procedidas em órgãos públicos e empresas privadas, contendo o objeto da fiscalização, as ocorrências encontradas, as medidas sugeridas, as providências adotadas e os resultados alcançados;

b.3 A atuação de cada deputado, como: frequência às sessões, viagens de interesse da Assembleia, projetos de lei apresentados, projetos de lei aprovados, requerimentos aprovados, participações em comissões, etc;

c) Aprove lei de instituição de Plano de Carreira da Assembleia, em qualidade e quantidade compatível com a natureza de suas competências e compatível como os planos de outras casas legislativas;




d) Realize concurso público por intermédio de empresa de reconhecimento nacional para preenchimento das vagas criadas pelo Plano de Carreira;

e) Reduza o orçamento do Poder Legistaivo para 3% da Receita Orçamentária.



Instituto Raça Humana
Nota do blog: Esta carta está circulando na internet. Eu já assinei. Quando recebê-la assine também. A causa é mais do que justa.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Cargos de Desconfiança

Daqui a três meses os governadores eleitos terão
de enfrentar um dos maiores pesadelos de um político. Como preencher as centenas de cargos de confiança que compõem um governo.
O número exato de cargos varia de Estado para
Estado. Para o governo federal eu já ouvi estimativas que variavam de 2.000 a 20.000 cargos a ser preenchidos.
A problema é que a maioria dos políticos não conhece um número suficiente de pessoas em quem realmente possa confiar. Ao contrário dos grandes executivos e profissionais que desenvolvem listas de colaboradores ao longo de suas carreiras, os políticos normalmente acumulam listas de pessoas em quem não se deve confiar, pelo menos politicamente. Poucos convivem, no dia a dia da batalha por votos, com administradores profissionais, orçamentistas empresariais, gerentes de RH e planejadores, profissionais necessários para um bom governo.
Por isso, as primeiras pessoas convidadas são normalmente amigos e parentes de irrestrita confiança. O desespero é tal que até genros, normalmente vistos com certa suspeita na escala familiar, são convidados para participar da equipe de governo. Não que amigos e parentes não possam ser pessoas competentes, mas a base de escolha é muito pequena para que a média seja qualificada. Imaginem criar uma seleção de futebol dessa maneira. Você apostaria no seu sucesso ? O mesmo ocorre com nossas equipes de governo. Você apostaria no sucesso de um governo assim constitúido ?
A primeira decepção de cada novo governo e a primeira crítica que a imprensa lhe faz ocorrem por ocasião do anúncio da equipe e dos parentes contratados. Insinua-se em alguns relatos, que parentes foram contratados para que todos se tornem ricos, o que pelos salários atuais do setor público é praticamente impossível.
O erro que a maioria dos políticos eleitos comete é desconhecer uma das leis básicas da administração: Todo cargo, seja público, seja privado, é de total e irrestrita desconfiança. Infelizmente, todo colaborador, por mais amigo que seja, precisa ser tratado com certa dose de desconfiança.
Os maiores desfalques em empresas familiares são cometidos por parentes, em que não escapa nem filhos, muito menos genros. Bons amigos então, nem se fala. De onde surgiu este mito de que amigo do peito e parente não roubam ?
Essa prática não é exclusiva de nossos políticos. A maioria de nossas empresas contrata diretores da mesma maneira, tanto que são chamadas de empresas ‘familiares’.
A saída para esse dilema é outra. Em vez de contratar um amigo do peito, selecione o melhor e mais qualificado profissional possível para o cargo, independente de conhecê-lo ou não. Em seguida, cerque o contratado de controles gerenciais, fiscalização interna , auditoria externa, o que for necessário para manter o pessoal na linha.
As multinacionais não trazem mais um presidente de confiança do exterior como faziam antigamente. Contratam brasileiros, sejam eles amigos dos acionistas ou não. Dois brasileiros, Alain Belda Fernandez e Henrique de Campos Meirelles, são presidentes da matriz americana das multinacionais em que trabalham, o equivalente a contratar um americano para cuidar de nossa dívida externa. No Brasil, o melhor administrador financeiro do país tem poucas chances de ser Ministro da Fazenda, se já não for amigo do presidente bem antes de sua eleição.
Cargo de confiança é simplesmente um conceito anacrônico, algo do passado pré-gerencial. Num mundo competitivo, todos os cargos, incluindo os do governo, precisam ser de total e irrestrita competência, e não de confiança.
A rigor, num mundo globalizado, onde temos de dominar alguns segmentos da economia mundial deveríamos estar contratando os melhores do mundo. Pelo menos algum dia vamos começar timidamente desde o início, contratando os melhores brasileiros.
PS – Se você, amigo ou parente de político, for convidado para um cargo de confiança nos próximos três meses sem ter pelo menos vinte anos de experiência na área, a nação encarecidamente implora : recuse delicadamente.
Publicado na Revista Veja, Editora Abril, na edição 1560, nº 33, de 19 de agosto de 1998, página 22


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

CNJ afasta juiz que chamou Lei Maria da Penha de "regra diabólica"


O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) decidiu nesta terça-feira afastar por pelo menos dois anos um juiz de Sete Lagoas (MG) que considerou inconstitucional a Lei Maria da Penha em diversas ações contra homens que agrediram suas companheiras, alegando ver na legislação "um conjunto de regras diabólicas" e dizendo que "a desgraça humana começou por causa da mulher".

Por 9 votos a 6, o conselho decretou a disponibilidade de Edilson Rumbelsperger Rodrigues, pena prevista na Lei Orgânica da Magistratura, que considera "grave" a atitude de um magistrado, mas não o suficiente para levar a aposentadoria compulsória.

Durante o período, ele receberá salário proporcional ao tempo de serviço e poderá pleitear a volta ao trabalho após dois anos de afastamento. A maioria dos conselheiros seguiu o relator, Marcelo Neves, ao entender que Rodrigues deveria ser afastado por usar em suas decisões uma linguagem discriminatória e preconceituosa.

Em sua defesa, o magistrado afirmou em uma nota divulgada no início do processo, que não ofendeu ninguém, apenas se posicionou contra a legislação "em tese".

A divergência foi proposta pela conselheira Eliana Calmon, que propôs uma censura ao juiz, com a aplicação de um exame de sanidade mental, ideia que não prevaleceu.

A Lei Maria da Penha (nº 11.340) é considerada um marco na defesa da mulher contra a violência doméstica. Sancionada em agosto de 2006, a legislação aumentou o rigor nas penas para agressões contra a mulher no lar, além de fornecer instrumentos para ajudar a coibir esse tipo de violência.

Seu nome é uma homenagem à biofarmacêutica Maria da Penha Maia, agredida seguidamente pelo marido. Após duas tentativas de assassinato em 1983, ela ficou paraplégica. O marido, Marco Antonio Herredia, só foi preso após 19 anos de julgamento e passou apenas dois anos em regime fechado.

Em uma das sentenças proferidas por Edilson Rodrigues, porém, a lei é chamada de "monstrengo tinhoso", seguida das seguintes considerações: "Para não se ver eventualmente envolvido nas armadilhas dessa lei absurda, o homem terá de se manter tolo, mole, no sentido de se ver na contingência de ter de ceder facilmente às pressões."

Ele também afirma que "a vingar esse conjunto de regras diabólicas, a família estará em perigo, como inclusive já está: desfacelada, os filhos sem regras, porque sem pais; o homem subjugado".

E conclui: "Ora, a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher, todos nós sabemos, mas também em virtude da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem (...) O mundo é masculino! A ideia que temos de Deus é masculina! Jesus foi homem!".

Fonte: Folha.com

p.s.: Em pleno século XXI ouvir esse tipo de coisa de quem deve zelar pela ordem pública é abominável. Parabéns ao CNJ!

domingo, 7 de novembro de 2010

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O que representa a vitória de Camilo Capiberibe ao governo do Amapá

O que representa a vitória de Camilo Capiberibe ao governo do Amapá
Fábio Fonseca de Castro
A vitória de Camilo Capiberibe ao governo do Amapá tem uma dimensão política com efeito sobre toda a Amazônia. Desenvolvo a seguir algumas considerações sobre esse significado:
1. Sua eleição reconstrói a perspectiva geopolítica de uma Amazônia com dois projetos governamentais de esquerda, ambos com grande compromisso com a sustentabilidade ambiental e social: Acre e Amapá, o primeiro com o PT e o segundo com o PSB. Os dois estados têm, aproximadamente, o mesmo tamanho e população. Iniciaram juntos a mesma caminhada, mas o Amapá interrompeu a sua por oito anos, durante os dois mandatos de Waldez Góes. Um período que resultou num colapso escandaloso de corrupção e que, dessa forma, mostra o equívoco do caminho tomado. Porém, o Acre atual tem dado sinais de cansaço desse processo. A votação, superior para Serra do que para Dilma e a eleição apertada de Tião Viana (PT) poderão posicionar o Amapá na linha de frente da esquerda na Amazônia.
2. Em relação aos dois grandes estados amazônicos, Pará e Amazonas, as expectativas são de polarização política com o Amapá. Os dois grandes serão governados por partidos sem compromisso maior com a sustentabilidade ambiental e social. Ainda que Omar Aziz, novo governador do Amazonas, pertença à base aliada do governo Dilma, seu papel como liderança regional é extremamente vulnerável, sobretudo diante do peso do ex-governador, Eduardo Braga, agora no Senado. Por outro lado, o retorno de Simão Jatene ao governo do Pará poderá representar o retorno de uma política de licenciamentos ambientais movida por interesses partidários.
3. Camilo representa um grupo de oposição irredutível e histórica. Esse grupo derrota um projeto fisiológico de poder representado pelo senador Sarney e por seus braços amapaenses, alguns dos quais muito próximos, como o senador não-reeleito Gilvan Borges e o candidato derrotado ao governo, Lucas Barreto; e outros menos próximos, como o ex-governador e candidato também derrotado ao Senado, Waldez Góes, o governador atual Pedro Paulo e o candidato derrotado ao governo, Jorge Amanajás. Em eleições anteriores todos eles estiveram juntos e a única oposição consistente foi o PSB dos Capiberibe, devendo também ser considerado que mesmo o PT, agora coligado ao PSB, fez parte do governo Waldez.
4. Camilo é uma liderança nova, mas é bem preparado. Tem inteligência política, pessoal e emocional. Essa condição, associada a um cenário que projeta o PSB como o partido da base de apoio ao governo Dilma com o maior número de governadores, permite que Camilo postule uma projeção de liderança na cena amazônica.
5. Camilo pertence ao partido de Eduardo Campos, o governo reeleito de Pernambuco numa vitória esmagadora e que deu a Dilma uma vitória retumbante em seu estado: 76 a 24% de Serra. Estrela em ascensão na política nacional, Campos tem algo em comum com Camilo: um projeto de desenvolvimento que tem na estrutura portuária uma de suas peças fundamentais. O projeto de recuperação do porto de Santana, no Amapá, é um dos carros-chefe do programa de governo de Camilo e decorre de lições aprendidas com o projeto de valorização do porto de Suape, em Pernambuco, uma ação central da gestão Campos. Aliás, Eduardo Campos visitou Camilo no segundo turno e com ele discutiu longamente seu projeto portuário.
6. A vitória de Camilo desmoraliza um projeto também fisiológico vindo do PSOL, e nisso confronta esse partido, pela primeira vez, seriamente, com suas contradições internas. Refiro-me ao senador eleito pelo PSOL do Amapá, Randolfe Rodrigues. Sua participação intensa na campanha do candidato do PTB, também apoiado por José Sarney, juntamente com suas declarações contraditórias, foram amplamente criticadas por outros diretórios estaduais, bem como por expoentes do PSOL em todo o país. Essa posição do senador eleito gera não apenas desconforto, mas um efeito simbólico grave para o PSOL, que, mais cedo ou mais tarde, deverá ser chamado a responder por isso.